José Eduardo Agualusa, nasceu a 13 de Dezembro de 1960, na cidade do Huambo, planalto central de Angola. Foi viver para Portugal ainda jovem. Fez estudos em Agronomia e Silvicultura.
Jornalista, é colaborador permanente do jornal O Público, da TSF, Rádio Jornal e do programa cultural televisivo Acontece. Ficcionista, com uma incursão pela poesia, foram-lhe atribuídos os seguintes prémios: Prémio Sonangol de Literatura em 1989 por A Conjura, Prémio de Jornalismo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa em 1994 por Lisboa Africana, Grande Prémio Literário TP em 1997 por Nação Crioula. É membro da União dos Escritores Angolanos.
“O pensamento exige palavras; um pensamento complexo exige muitas palavras; um pensamento muito complexo exige muitas palavras e diversos idiomas. Há realidades, sentimentos, certos prodígios e mistérios, que só podem ser expressos em determinadas línguas. Quando essas línguas se perdem, o Homem fica inevitavelmente mas longe de Deus. Ezra Pound dizia que a soma de todo o conhecimento humano não pode ser contida numa única língua. Uma única língua não é capaz de expressar todas as formas e graus da compreensão humana.”. De língua de Cobra a Língua Mátria. In: Ismael Mateus (cord.)Angola. A festa e o luto. 25 Anos de Independência. Lisboa, Vega Editora, 2000, p.259.
O seu livro Nação Crioula já foi publicado na Alemanha e Espanha, estando a ser traduzido para o inglês e holandês. A obra Estação das Chuvas está a ser traduzida para Espanhol.
“Florzinha desceu as escadas como se a esperasse o triunfo de uma passarela. A cabeleira espessa, luminosa, caia-lhe em desafio pelas costas. O vestido de seda, negro e ouro, parecia fazer parte dos seu corpo esguio. O Embaixador viu-a avançar com a sensação de que alguma coisa de irremediável estava preste a acontecer. Tinha a boca seca: “Esta mulher”, murmurou, “faz seu o chão que pisa”. Café, ao lado dele, não gostou da observação. Desagradou-lhe ainda mais o escuro alvoroço na voz do Embaixador. “O chão já lhe pertence”, respondeu agreste: “é a minha filha”. Florzinha, ignorando o silêncio ansioso dos homens, foi buscar uma cadeira e sentou-se ao lado do pai. O Embaixador bebeu o whisky de um único trago. Voltou a servir-se enquanto tentava pensar nalguma coisa para dizer, mas não lhe ocorreu nada. Nesse momento o guarda bateu à porta: estava um preto lá fora, a falar estrangeiro, e a perguntar pelo senhor Café.” In: José Eduardo Agualusa. Dançar outra vez. Luanda, Edições Chá de Caxinde, 2001, p.43