Em todos os trajecto, tanto na ida como na volta, não deixes que alguém te passe à esquerda. Evita!... Depois daquela nascente de Kibulukutu, em direcção à primeira choça que encontrares, isto é, antes da baixa de Malombe, enterras esta dibunda. Pega, fecha a mão!... Muita atenção, ouviste?... Quando cantar o primeiro galo, tens de estar no campo da bola. E no centro, no lugar da coroa onde se assenta a bola, enterras isso. Pega, fecha a mão!... Depois de enterrares, alisa o lugar, de uma maneira para ninguém desconfiar... Depois desta operação, dá oito voltas ao campo; na nona, passas com este embrulho. Pega, fecha a mão! Nove vezes entre as pernas. Regressas... Por volta das onze horas da manhã, portanto, amanhã dia do jogo trazes-me todos os jogadores que farão parte do desafio (...).
In: Mestre Tamoda, 2001, p. 56, 57.
Biografia e atuação:
Romancista. Uanhenga Xitu é o nome Kinbundu de Agostinho André Mendes de Carvalho. Fez curso de enfermagem, profissão que exerceu durante muitos anos. Como enfermeiro, deslocou-se por todo o país. Também cursou Ciências Políticas na Alemanha. Em 1959, foi preso e considerado participante no “Processo dos
Percurso Literário: época e geração
É considerado um Poeta da Geração
Obra Poética: cronologia e publicações
- 1974 – Meu Discurso.
- 1974 – Mestre Tamoda.
- 1974 – Bola Com Feitiço.
- 1974 – Manana.
- 1976 – Vozes na Sanzala – Kahitu.
- 1980 – Os Sobreviventes da Máquina Colonial Depõem.
- 1984 – Os Discursos de Mestre Tamoda.
- 1989 – O Ministro.
- 1997 – Cultos Especiais.
- 2002 – Os Sobreviventes da Máquina Colonial Depõem. (reedição)
Crítica Literária:
Os Discursos de Mestre Tamoda é, talvez, a sua obra mais importante e a mais reeditada. A respeito deste livro, o próprio autor nos diz:
A obra publicada de Mestre Tamoda, como algumas vezes expliquei aos leitores, foi escrita na cadeia, onde a vigilância e busca dos guardas e da parte de outras entidades prisionais era constante. Eu e outros companheiros vimos confiscados, além da correspondência familiar e documentos, trabalhos literários de grande valor que nunca mais recuperámos e, para voltar a reproduzi-los tal e qual, será difícil. (XITU apud UEA)
Ainda sobre a referida obra, Luís Kandjimbo, um dos mais importantes críticos literários angolanos, escreveu:
Tamoda, simbolizando, o mimetismo cabotino, é uma personagem típica do mundo que através da exibição de maneirismos expõe à hilaridade o uso da língua portuguesa perante uma audiência de jovens e crianças, transformando-se em modelo, no que diz respeito ao emprego e manipulação de vocabulários portugueses... Na qualidade de escritor com um envolvimento directo na actividade política, pois é deputado à Assembleia Nacional, na sua bibliografia destacam – se ‘O Ministro’ e ‘Cultos Especiais” duas obras consagradas à crítica social, ao culto à personalidade e a outros comportamentos dos políticos. (KANDJIMBO apud UEA)
O professor Fernando Mourão aponta que Uanhenga Xitu,
Salvato Trigo também tece alguns comentários sobre o renomado escritor:
Em síntese, estamos, portanto, em face de um escritor, que, no dizer avisado de Russell Hamilton, é inequivocamente um dos principais modernizadores da literatura angolana. Sem querermos contrariar minimamente a opinião daquele crítico, talvez nós preferíssemos dizer que U. Xitu é inequivocamente um dos maiores “africanizadores” da literatura angolana [...]. Uanhenga Xitu vai continuar a escrever [...] polifonicamente, como o tem feito até aqui, dando à literatura angolana cada vez mais o sabor da oratura. Só assim o texto viverá, uma vez que se alicerça numa expressão vivificante, qual é a do griotismo literário, que continuará a ser o traço distintivo das literaturas africanas modernas. “Da oratura à literatura” – há-de continuar a ser o trajecto e o objectivo da escrita de Uanhenga Xitu que se recusa ser, literariamente, Agostinho Mendes de Carvalho. (TRIGO apud UEA)
Sobre as personagens que recria nas suas obras, é o próprio Uanhenga Xitu quem diz:
As personagens do meu mundo ficcional, a princípio apenas imaginadas, vão-se autocriando, ganham rosto próprio e, mesmo quando lhes dou mais atenção, tornam-se tão autónomas no interior da minha narrativa, e nem sempre o destino que lhes traçara acabará por se cumprir. Nunca soube, antecipadamente, o fim que cada uma teria. O Kahitu, que era tão dócil na redacção das suas cartas, não conseguira convencer... Nunca o tive como modelo acabado. (XITU apud UEA)
Referências Bibliográficas:
KANDJIMBO, Luis. BioQuem. Disponível em www: <URL: http://www.uea-angola.org/bioquem.cfm?ID=80
MOURÃO, Fernando. O Problema da Autonomia e da Denominação da Literatura Angolana. Paris: Fondation Calouste Gulbenkian/Centre Culturel Portugais, 1985.
TRIGO, Salvato. Uanhenga Xitu. Da oratura à literatura. Cadernos de Literatura, 12, 1982.
___________ BioQuem. Disponível em www: <URL: http://www.uea-angola.org/bioquem.cfm?ID=80
XITU, Uanhenga. BioQuem. Disponível em www: <URL: http://www.uea-angola.org/bioquem.cfm?ID=80