Manuel Augusto Fragata de Morais, de seu nome completo, nasceu na Província do Uíge. Seus primeiros escritos aparecerm na década de sessenta em Paris, onde igualmente frequentou a Universidade Internacional do Teatro, na qual trabalhou com André Louis Perinetti e Victor Garcia.
“Fora jurado amor à primeira vista. Ninguém duvidava, ao ouvir Malaquias ‘Gordo’, contar, com paixão, a estória do seu matrimónio, que engorda há quinze anos. Conhecera a então futura esposa num dos programas matinais de culinária, que a T.V.I (Televisão de Inkuna) quinzenalmente apresentava naqueles anos idos. A fama do bom garfo, aliada ao facto de ser dono do mais famoso restaurante de luxo de Katola, levara a que convidassem a presidir ao júri do concurso. Aos concorrentes era atribuído um valioso prémio, com base na receita mais original, no prato melhor confeccionado perante as inquiridoras câmaras televisivas, e nas parcas chamadas telefónicas recebidas no programa, sobretudo de aborrecidas donas de casa querendo dar palpites gastronómicos. Embasbacado, mesmerizado no jeito e trajeitos culinários das mãos da fada Serafina Coquillage ( assim se escrevera), entrou em acelerada órbita amorosa quando ela, sem querer, acariciou castamente o corpo engordurado do coelho...”
In Inkuna – Minha Terra - Página 107.
Na Holanda, a convite do STAUT da Academia de Artes Dramáticas daquele país da União Europeia, escrever, realizou e encenou seus trabalhos pioneiros de teatro infantil, que levaram o nome genérico de ‘Gupia’ . Os mesmos foram apresentados no Holland Festival e no Berlin Kinder Und Jugendtheater, em 1971. No seu próprio grupo teatral, The Frist Company, realizou, encenou e actuou em “The Indian Wants the Bronx” de Israel Horowitz, “Fando e Lis” de Arrabal, bem como “The Hole”, “Agonies “ e “Sketches”, todos da sua autoria.
“ As duas jovens caminhavam em passos curtos, bamboleando as ancas insinuantes. Trajavam saias colantes curtas e tópes bem decotados, revelando meia barriga onde os bem feitos umbigos tanto prefatizavam chuvas e tempestades quanto bonanças infindas, dependendo. As tranças longas, algumas acastanhadas, realçavam a graça africana. Não teriam mais de dezasseis anos e encaminhavam – se para a marginal da baia de katola, a caminho da Ilha, alegres e vaidosas. Lá, no clube dos franceses, situado numa casa vistosa, Jean Pierre, com oitos meses de Inkuna, descrevia a Luc, recém chegado, as belezas da terra, e como com meia dúzia de dólares poderia usufruir do bom e do melhor das jovens de Katola. Ele que esperasse, dali a pouco dir – lhe – ia se era mentira ou verdade. Marcara encontro com a Xandinha e a Milocas, esta última, pensava não ter mais que quinze anos, reservada para ele. “Menos de quinze anos?”, perguntou Luc incrédulo, “Mas é uma criança, posso ir para a cadeia!”. “Isso é na nossa terra. Aqui nada disso conta, o escrúpulo não existe, já verás. Quando formos à boite, logo compreenderás. A economia é de guerra, meu velho, como dizem os nativos. O que interessa é teres o dinheiro”, respondeu Jean Pierre, veterano destas campanhas africanas. “Economia de guerra com tanto carro novo que vejo nas ruas?”, pretendeu saber Luc. “De guerra para uns, os ricos. De miséria para a maioria. Há coisas que se passam em Katola que nunca vi em lugar algum. Recordas - te quando fomos para o Rwanda? De como todos fugiam do país por causa da guerra? Pois em Inkuna passa – se o contrário, todos fogem por cá por causa da guerra!”, respondeu Jean Pierre, sem brincar...”
In Inkuna – Minha Terra - Página –
Em 1972 – 75, frequentou a Nederlandse Film Akademie, produzindo para a televisão holandesa, documentários sobre Angola em 1974, bem como em 1975. Seus contos e poemas foram publicados em revista e jornais holandeses, estando incluídos em duas antologias, uma de escritores angolanos e outra de escritores de língua portuguesa. É cronista do Jornal de Angola, membro da União dos Jornalistas de Angola, membro da União dos Escritores Angolanos e Vice – Ministro da Educação e Cultura.
Sobre a sua obra Inkuna – Minha Terra, lançada em 1997, o conceituado escritor Angolano, Henrique Abranches, diz o seguinte: “Esta pequena obra do escritor Fragata de Morais constitui para mim uma leitura penosa de onde sai deprimido, não porque eu não conhecesse que a verdade está por trás de muitas das suas estórias, como todos nos que não andamos a dormir conhecemos tão bem. Mas ele soube ser doloroso por vezes ousadamente controverso, quase provocatório. A coragem que passa nalguns dos seus contos, como “Jogo de Xadrez”, ou as “Amizades”, tem traça de um combatente , de alguém que não quer ser derrotado, porque não acha justo, e embora não saiba triunfar, soube ver e sofrer com o que viu ( Martinha), é um bom exemplo, entregando ao leitor a batata quente...