"Rasgo cada poema
que não condigo tirar de mim.
Zangas - te?
Eu sei
Devia ter um cesto para as letras
Incapazes
Falo de poesia
Amor
Esse vício sublime
Onde se comete o maior delito".
Álvaro Macieira é jornalista, escritor e pintor. Nasceu a 13 de Maio de 1958, em Sanza- Pombo - Uíge. Esteve durante oito anos nas FAPLA-Forças Amadas de Libertação de Angola, onde se especializou em comunicações. A sua faceta de pintor foi revelada em 1998.
"Vezes houve em que nossos lábios
Se uniram
Num fogo de beijos
E nossas bocas trocaram sabores
E salivas.
E vezes em que nossos lábios
decidiram
O destino de nossas vidas
Num gesto terno"
"lábios do beijo" In Álvaro Macieira Cantos de Amor, 1987, p.5.
As suas obras pitorescas estiveram em cidades tão diversas com Paris e Moscovo. Já fez cinco exposições individuais e participou em pelo menos nove exposições colectivas. Faz parte de colecções particulares em Portugal, Rússia, Brasil, França, Alemanha, Itália, Estados Unidos da América e Inglaterra. Há quase vinte anos que se dedica á investigação dos vários aspectos da vida cultural angolana, percorrendo o país e tomando contacto com a realidade nacional, consolidando os seus conhecimentos que lhe vêm da sua vivência rural e do privilégio de ter viajado de ter viajado pelas inúmeras regiões de Angola. Autor de "Castro Soromenho: Cinco Depoimentos",1988, Colecção Lavra e Oficina, e poesia," Cantos de Amor", 1992, é membro da União dos Escritores angolanos.
"Amor...
Quando vires á minha terra
Traz-me apenas a lista
Das juras que fizemos
No dia em que nossos peitos se encontraram.
(Ah que instante aquele aquele...)
Quando vieres á minha terra
Estender-te-ei meus braços.
Que te darei- afinal-senão a
Minha voz em coro
E visões de sábios anciões
E sol?"...
"viagem anunciada" In Álvaro Macieira - Cantos do Amor p.37.
O escritor Dário de Melo diz: "Prefaciar um livro de poesia exige além da sensibilidade quem o lê, o saber de quem o apresenta. E nada é tão prejudicial a este empreendimento, que em havendo alguma sensibilidade e tão pouco saber, haja por outro lado a amizade e o companheirismo que há tão longo anos nos ligam ao autor. Que mais se pode dizer de um livro de poesias de amor? Não só lembrar que ao tempo em que Álvaro Macieira escreveu, não era de amor a poesia que Angola escrevia. O que havia por cá e alguma muito boa poesia que deixará marca . Eram cantos da revolução e esperança, cantares de companheirismo e certezas de um futuro melhor e diferente, pontuados por um idealismo viril que conferia talvez á poesia de amor, um certo carácter de debilidade de alma a que só se atreviam homens e poetas de nome indiscutível. Ao tempo escrever poesia de amor era, suspeitosamente escrever a destempo sobre temas sem a urgência que o tempo parecia impor. E impôs o tempo aí o vemos hoje com as revoluções caídas e a ressuscitar das sobras, o repudiado Amor que ninguém quis. Cansaram-se as escritas dos heróis, recolocaram-se os deuses nos altares, desmistificou-se a grande abstracção chamada povo".